São Nicolau de Canaveses

Séc. XIV – Marco de Canaveses

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Igreja paroquial de fundação medieval, de estrutura românica, alterada ao longo dos séculos 17 e 18, tendo sofrido obras no séc. 20, com a descoberta de pinturas murais e remoção de retábulos de talha maneiristas. Apresenta vestígios do antigo templo românico, como a cachorrada das fachadas laterais, bem como o portal axial e portas travessas, se bem que revelem uma feitura tardia, já com perfis apontados. Terá sido reformada ao longo dos séculos 16 e 17, altura em que surgem as pinturas murais e a sineira (séc. 16), surgindo, no 17, novas janelas em capialço e se amplia o arco triunfal, construindo o batistério e fazendo-se os retábulos colaterais. O retábulo-mor data do séc. 18 e encontra-se documentado o seu douramento. É de planta retangular composta por nave e capela-mor, com sacristia adossada ao lado direito, com coberturas interiores diferenciadas de madeira, sendo em falsa abóbada na capela-mor, iluminada por janelas retilíneas em capialço, mas tendo algumas frestas nas fachadas laterais, datadas da intervenção do séc. 20. Fachada principal rematada em empena truncada por sineira seiscentista, com os vãos rasgados em eixo composto por portal de perfil apontados, sobre impostas salientes e tímpano liso, e por pequena fresta. Fachadas simples, as laterais rasgadas por portas travessas com perfis semelhantes ao portal axial, a do lado sul parcialmente entaipada e transformada em janela. O interior tinha coro-alto removido na obra do séc. 20 e batistério e púlpito no lado do Evangelho. Capela-mor com retábulo-mor barroco, do denominado estilo nacional. Salienta-se, ainda, a existência de vários painéis de pintura mural, do século 16, com figuras enquadradas por molduras decoradas com motivos geométricos e inscrições. Para o alpendre da Capela de São Lázaro, foram transferidas várias pedras tumulares com inscrições que pertenciam ao pavimento da igreja; no interior desta capela estão ainda os retábulos colaterais e o altar em forma de urna.

Descrição

Planta retangular composta por nave e capela-mor mais estreita, e sacristia no lado direito, de volumes articulados e escalonados com coberturas diferenciadas em telhado de uma (sacristia) e duas águas. Fachadas em cantaria de granito aparente, em aparelho isódomo, percorridas por socos de cantaria e rematadas em cornijas, as das fachadas laterais sustentadas por cachorros, alguns com decoração visível. Fachada principal virada a ocidente, rematada em empena truncada e elevada com sineira em arco de volta perfeita, terminada em ângulo, com cornija saliente, coroada por pequena cruz. É rasgada por portal em arco apontado e dobrado, assente em impostas salientes e com tímpano liso, encimado por pequena fresta. A fachada lateral esquerda ostenta algumas mísulas, dispostas de forma irregular, rasgada por porta travessa em arco apontado, assente em impostas salientes e tímpano liso; tem acesso por quatro degraus em cantaria; tem, ainda, uma fresta estreita, de volta perfeita e, no corpo da capela-mor, janela retilínea em capialço. Fachada lateral direita com ampla janela retilínea, protegida por grades em ferro e enquadrada pelo antigo vão em arco apontado, tendo, ainda, uma fresta; no extremo esquerdo, escada de ferro de acesso à sineira. O corpo da capela-mor tem duas janelas retilíneas, em capialço, e, nas faces da sacristia, duas frestas, surgindo, na face virada a ocidente, porta de verga reta. Fachada posterior em empena, cega. INTERIOR com paredes em cantaria de granito aparente, com cobertura em madeira, e pavimento da nave, em madeira com guias em laje de cantaria. Existem vários fragmentos de pinturas murais. A ladear o portal axial, pias de água benta, em cantaria, uma delas de taça circular, assente em pé cilíndrico e, no lado oposto, uma embutida no muro, em quarto de esfera. No lado do Evangelho, o batistério, com acesso por arco de volta perfeita, assente em pilastras toscanas, tudo almofadado; tem pia batismal em cantaria de granito, composta por pé facetado e taça octogonal. Ao lado do batistério, armário embutido com portas de madeira; sucede-se, a base de cantaria do antigo púlpito, albergando imaginária. No lado da Epístola, um amplo vão de volta perfeita enquadra o túmulo de Álvaro de Carvalho. Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras, tudo almofadado, ladeado por mesas de altar em cantaria de granito, dedicadas a Santa Luzia (Evangelho) e Nossa Senhora de Fátima (Epístola). Capela-mor com cobertura em falsa abóbada de berço de madeira e pavimento em soalho. Sobre supedâneo de dois degraus de granito, a mesa de altar em madeira. Na parede testeira, retábulo-mor, de talha dourada, de corpo reto e três eixos definidos por quatro colunas torsas, ornadas por pâmpanos e fénices, assentes em consolas que se prolongam em duas arquivoltas unidas por aduelas no sentido do raio, formando o ático, profusamente decorado por acantos e rosetões. Ao centro, tribuna de volta perfeita com trono expositivo de três degraus. Casa um dos eixos laterais, possui apainelado com moldura de volta perfeita e mísulas com imaginária, tendo, na base, portas de acesso à tribuna. Altar paralelepipédico, encimado por sacrário embutido, envolvido por acantos e tendo a porta ornada por Cristo Redentor. No lado da Epístola, porta de acesso à sacristia, elevada e com paredes em cantaria de granito aparente, teto em masseira e pavimento em tijoleira. Na parede virada a oriente, surge arcaz de madeira.

Cronologia

Séc. 13 – data provável da construção da Igreja; séc. 16 – data de execução das pinturas murais; 1542 – paga ao bispo do Porto 22 alqueires de milho, conforme o Censual da Mitra; 1565 – sepultamento na igreja de Álvaro de Carvalho; séc. 17 – feitura dos retábulos colaterais; séc. 18 – data de execução do retábulo-mor; 1717, 02 fevereiro – contrato com José Pacheco para a pintura da tribuna do retábulo-mor, que ficaria sem efeito; contrato com o pintor Manuel Ferreira Rangel para a pintura da tribuna do retábulo-mor; séc. 19 – o Santíssimo sai da igreja, indo para Fornos; 1868, julho – volta a haver Santíssimo na igreja; 1930 – correspondência trocada entre o padre António da Rocha Dias e a DGEMN, solicitando o apoio técnico para obras urgentes; 1970, 21 maio – ofício da Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, informando sobre o aproveitamento hidroeléctrico do rio Tâmega, no escalão do Torrão, cujo projeto da albufeira prevê a deslocação do Cruzeiro do Senhor da Boa Passagem e da Capela de São Lázaro, assim como a consolidação dos muros das igrejas de São Nicolau e da Santa Maria sobre o Tâmega; 1972 – ofício do padre José da Silva Dias a solicitar obras de renovação da instalação elétrica e sonora; 1974 – durante as obras de renovação da instalação elétrica são postas a descoberto as pinturas murais quinhentistas; 1977 – artigos no Jornal de Notícias e no O Comércio do Porto, com depoimentos do historiador Fernando Pamplona relativamente ao interesse e à necessidade de conservação das pinturas murais; 1977 – correspondência trocada entre a DGEMN e o Instituto José de Figueiredo para a definição de medidas a tomar na preservação das pinturas murais; o Instituto José de Figueiredo, através da Brigada da secção de pintura mural, esteve na igreja de 16 a 20 de Maio, onde iniciou o tratamento das pinturas e informou que estas continuavam sob camadas de cal, e que o principal fator de deterioração estava a ser a humidade excessiva, pelo que solicitavam a intervenção da DGEMN; ofício da Academia Nacional de Belas-Artes, a solicitar obras urgentes, devido às infiltrações de águas pluviais; a DGEMN está informada sobre as infiltrações de humidade em vários pontos da igreja, nomeadamente nas paredes laterais e na empena do arco triunfal; os coroamentos das paredes laterais da nave não estão impermeabilizados; a cobertura da capela-mor e da sacristia precisa de reparações e de substituição dos rufos junto à parede do arco triunfal; 1980-1982 – correspondência trocada entre a Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, a DGEMN e o IPPC relativamente ao estudo da remoção dos imóveis e à consolidação dos muros de suporte das igrejas; 1990 – ofício da Comissão Fabriqueira a informar do estado de degradação da igreja e a solicitar apoio técnico; 1992, 22 outubro – artigo de jornal de Marco de Canaveses “A Verdade”, referindo-se ao estado de degradação da talha do retábulo-mor; 1993 – deslocação de técnicos da DGEMN à igreja para avaliação das obras prioritárias, considerando-se ser necessária a beneficiação geral dos vãos exteriores e interiores, revisão dos pavimentos da capela-mor e sacristia, conservação das coberturas e beneficiação da instalação elétrica e arranjo do pavimento da nave; ofício do padre à DGEMN, solicitando obras urgentes no retábulo-mor, na consolidação dos frescos e na substituição de portas e janelas; 1994 – técnico da DREMN, informa a DGEMN da necessidade de limpeza das coberturas, da limpeza dos paramentos interiores e da estrutura de apoio da cobertura, em madeira.

Outros:

A Igreja de São Nicolau de Canaveses situa-se na margem esquerda do rio Tâmega, freguesia de São Nicolau. Esta Igreja está histórica e geograficamente relacionada com a sua homóloga de Santa Maria de Sobretâmega, na outra margem do rio.
As duas povoações onde as Igrejas se inserem faziam, outrora, parte do burgo de Canaveses, ligadas através da antiga ponte romano-medieval de Canaveses, em que as Igrejas abriam as suas fachadas para esta importante via de comunicação.
A historiografia hesita em atribuir a (re)construção da ponte à rainha Mafalda de Saboia (1125-1157), mulher de D. Afonso Henriques, ou à sua neta, beata Mafalda Sanches (c. c.1200-1256), filha de D. Sancho I (1154-1211). No entanto, a tradição local considera que terá sido a primeira a mandar executar a obra.
Apesar da barreia fluvial, as duas povoações comungaram, durante séculos, dos mesmos interesses. Se até ao século XV se dividiam entre duas correições, a partir de 1406 integraram apenas a de Entre-Douro-e-Minho.
Os moradores do burgo de Canaveses, que, no século XVIII, era constituído pelas freguesias de São Nicolau e Sobretâmega, estavam excluídos do pagamento de imposto de passagem na ponte de Canaveses. Na época, o burgo era governado, no plano civil, pelos respetivos órgãos camarários e, no plano judicial, por um juiz ordinário.
Mas as ligações não se ficam pela história, acontecendo o mesmo ao nível arquitetónico. Ambas as Igrejas apresentam uma cronologia idêntica, do românico tardio, caracterizado pela persistência das suas formas num período que a historiografia identifica já como de gótico.
Apontamos, assim, as suas construções para uma datação posterior ao ano de 1320. O mesmo acontece ao nível da planimetria em que as duas se apresentam como pequenos templos, compostas por nave única e capela-mor retangular.
Esta história análoga é, no século XX, reconhecida quando a Igreja de São Nicolau, a Capela de São Lázaro, o Cruzeiro do Senhor da Boa Passagem e a Igreja de Santa Maria de Sobretâmega são classificadas, no seu conjunto, como imóveis de interesse público.
De notar a exclusão da ponte de Canaveses desta classificação. A sua não inclusão deveu-se ao facto de a ponte ter sido demolida em 1944 e reconstruída uma nova, idêntica, mas não seguindo o desenho original. Na década seguinte, a ponte foi submersa devido à construção de barragem do Torrão.
Não obstante as semelhanças, o interior de São Nicolau é mais rico do que a sua congénere, evidenciando-se, por exemplo, na tumulária e nas pinturas murais.
Inserido num vão, rasgado na espessura do muro, temos a arca tumular de Álvaro Vasconcelos, falecido em 1565, com tampa de duas águas, ostentando inscrição na face frontal, envolvida por uma moldura de linhas clássicas.
No que concerne às pinturas murais, descobertas em 1973, por ocasião de uma intervenção com vista à eletrificação da Igreja, elas encontram-se inseridas nas paredes da nave, podendo-se identificar diversas campanhas: do lado do Evangelho, identificam-se Santo Antão, restos de uma inscrição de possível encomendador da obra e outros elementos decorativos, correspondendo à mais antiga campanha, provavelmente do último quartel do século XV; no arco triunfal, lado do Evangelho, conservam-se fragmentos de uma Anunciação que, devido às suas semelhanças com outras oficinas de pintura mural (por exemplo, em São Mamede de Vila Verde), poderá corresponder a uma campanha posterior a 1507; a imagem de Santa Catarina, na parede da nave, lado sul, identifica uma outra oficina, dos inícios do século XVII, corroborando-se com base no nome da encomendante que aparece no painel – Maria Ribeiro – e que terá nascido em 1598; do mesmo lado, mas mais junto ao arco triunfal, encontramos a representação de um abade beneditino, com o seu hábito negro, livro e báculo. Existem ainda vestígios de uma outra Anunciação, datável, talvez, do século XVIII.
Na segunda década do século XVIII esta Igreja possuía cinco retábulos, quatro deles desmantelados posteriormente por ocasião da remoção do reboco que revestia o interior da Igreja, aquando da descoberta dos fragmentos de pintura mural. Estes seriam ao gosto maneirista. Hoje em dia só se conserva o retábulo-mor, em talha estilo nacional.

Textos de: http://www.patrimoniocultural.gov.pt, http://www.monumentos.gov.pt e http://www.rotadoromanico.com

Fotos de outros recolhidas na net:

O Senhor da Boa Passagem junto à igreja de S. Nicolau em Canaveseso (2)o (1)o (3)o (2)


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Vídeo de: Rota do Românico

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