São João Baptista da Comenda de Távora

Séc. XII – Arcos de Valdevez

Arquitectura religiosa, românica. Capela devocional e funerária inserindo-se na 2ª fase do românico português, na 2ª do foco do Alto Minho e no grupo regional das capelas da Ribeira Lima; é muito simples, apenas com cachorros prismáticos e portais com os arcos sobre impostas, os tímpanos lisos e os lintéis com decoração geométrica grafítica. Os capitéis das frestas têm volumetria cúbica própria da área. A S. teve alpendre ou outra construção dada a existência de pingadoiros. A capela de São Tomé também de grande simplicidade, denota já uma certa evolução, observável sobretudo na fresta de 2 lumes, e cujo mainel constitui 1 reaproveitamento de matérias. Fresta S. bastante curiosa abrindo para o interior e exterior, onde o arco é decorado e aos colunelos se adossam 2 imagens, atarracadas e frustamente esculpidas e que, por uma delas apresentar um livro, têm sido identificados como apóstolos.

Descrição

Planta composta, com nave longitudinal, capela-mor rectangular e capela rectangular irregular adossada a S. Coberturas diferenciadas com telhados de 2 águas. Frontespício rematado por alto campanário central de 2 sineiras; rasga-o portal de arco pleno sobre imposta lisa, com inscrição no tímpano e arquinhos gravados no lintel, e fresta. Na fachada S. abre-se portal de arco quebrado sobre imposta e lintel gravado; e fresta, abrindo para exterior, enquadrada por 2 colunas, a que se adossam estátuas, de capitel esculpido e arco quebrado gravado sobre imposta; alçado com 2 ordens sobrepostas de pingadores. A cornija corre assente em cachorros prismáticos. No cunhal SE. adossa-se a capela de São Tomé, com portal entaipado, de arco quebrado sobre imposta, encimado por fresta e terminando em empena. Lateralmente, corre cornija sobre cachorros também prismáticos; na fachada posterior, fresta de 2 lumes ostentando mainel decorado com motivos geométricos encimado por óculo em signo-saimão. Interior da capela de São João Baptista vazio, tendo 2 portais laterais entaipados; frestas abrindo para o interior enquadradas por colunas de capitéis vegetalistas, estando entaipado a que encima o arco triunfal, a pleno centro sobre pilastras. Pavimento de lajes e tecto com vigamento de madeira. Capela-mor com pequeno retábulo de talha e ligação para a capela de São Tomé. À fachada S. encostam-se vários sarcófagos, alguns deles antropomórficos.

Cronologia

Séc 12, finais – Data provável da sua construção; 1190 – data da inscrição do lintel do portal axial; 1269, 31 Agosto – Ordem de Malta fixa-se em Távora pela troca de uma herdade entre D. Afonso III e os Hospitalários; 1294 – data da inscrição no lintel da porta S.; séc. 14 / 15 – remodelação da capela-mor, adossando-se-lhe uma outra capela dedicada a São Tomé; 1327 – data de inscrição nesta última; 1687 – visitador Fr. Heitor de Sá Pereira ordena que o Comendador de Távora mude para a capela de São Tomé o retábulo da capela-mor, para a qual mandará fazer outro; 1711 – alguns melhoramentos na igreja; 1715 – visitador Fr. Paulo da Fonseca manda pôr “uma empanada na fresta da Sacristia com suas grades e fazer uns armários para as vestimentas”; refere ainda os 2 sinos de frontespício; 1721 – refere-se apenas 1 sino; 1730 – visitador manda abrir 1 fresta na capela-mor para dar luz ao altar.

Nota Histórico-Artística

Apesar dos vários estudos dedicados a este monumento, a sua história permanece por desvendar em áreas fundamentais como as origens, a passagem (ou instituição) para a Ordem do Hospital e a respectiva sucessão dos seus titulares.
Nas Inquirições de 1258, ainda não se refere qualquer templo com esta invocação. Por outro lado, em 1269, num documento de D. Afonso III, menciona-se o “reguengo de Távora”. Tendo em conta, estas referências, Lourenço Alves sugeriu que a edificação da capela, por iniciativa dos Hospitalários, teve lugar entre estas datas. No entanto, a referência ao reguengo deve motivar alguma cautela nesta cronologia, uma vez que só depois de 1269 ter-se-á passado a propriedade para a posse dos frades hospitalários, iniciando-se, então, a construção da capela. Ao final das obras deve referir-se uma inscrição na fachada Sul, datada de 1294, que Mário Barroca equacionou ser alusiva a uma qualquer “reforma arquitectónica do templo”.
Perante estes dados cronológicos, não restam dúvidas sobre a condição tardia do monumento, erigido quando, há muito, o Gótico havia entrado no país e fazia a sua afirmação nas regiões de maior desenvolvimento do centro e do Sul do reino. No entanto, existe uma segunda inscrição alusiva à construção românica, situada no tímpano do portal principal, actualmente muito delida, mas ainda possível de reconhecer a sua data: 14 de Setembro de 1180, de acordo com a proposta de BARROCA. Neste sentido, ganha claro sentido a pré-existência de um templo – por qualquer razão não referido em 1258 -, posteriormente doado à Ordem do Hospital, instituição que haveria de ser responsável pela construção do templo actual.
A avaliação estilística da capela atesta a sua maior proximidade em relação aos “fins do século XIII que dos finais da centúria anterior”, pelo que a inscrição de 1180 deve ser relacionada com uma fase construtiva anterior, de que aparentemente não restam evidências. Com efeito, a sua estrutura revela um plano românico tardio e de resistência, simplificado e destituído de rasgos arquitectónicos de originalidade. Com uma só nave e capela-mor rectangular (bastante alterada na época moderna), a sua fachada principal possui um portal axial de arco apontado, assente em duas consolas e na caixa-murária, a que se sobrepõe uma fresta e, coroando o alçado, um campanário de dupla sineira de volta perfeita, elemento característico das derradeiras e rurais construções românicas no nosso país.
A maior originalidade do edifício está na sua janela do lado Sul, de arco de volta perfeita, em cujas colunas se esculpiram duas figuras humanas. A interpretação destas esculturas tem vindo a ser objecto de discussão, sendo provável que representem São João Evangelista e São João Baptista, ambos padroeiros da Ordem do Hospital e aqui figurados como exemplos das duas Eras do Mundo (antes e depois de Cristo).
A restante decoração do templo coloca alguns problemas estilísticos, quer a dos capitéis do interior (que parecem apontar para uma cronologia mais recuada), quer a dos tímpanos (à base de elementos geométricos incisos, que podem corresponder a formulários já ensaiados no Entre-Douro-e-Minho em tempos mais recuados, como se depreende pela relação que ALMEIDA, estabeleceu com elementos de Sanfins de Friestas).
Adossada ao lado Sul da cabeceira, construiu-se, na primeira metade do século XIV, a capela funerária de São Tomé. Ela está datada de 1327 (BARROCA) e terá sido construída por uma família nobre local para seu panteão, dando continuidade ao carácter funerário que parece ter presidido à edificação da própria capela de São João Baptista, local de sepultura dos comendadores hospitalários, cujos túmulos um visitador do século XVII viu (ALVES, 1982) e de que restam ainda alguns no exterior.

Textos de: http://www.patrimoniocultural.gov.pt

http://www.monumentos.gov.pt

Fotos de outros recolhidas na net:

Vídeo de:  António M.Ribeiro

Localização:

https://goo.gl/maps/65Bcx9RuHco6aUoVA

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