Santa Maria de Vila Nova de Muía

Séc. XI – Ponte da Barca

Arquitectura religiosa, românica. Igreja românica da 2ª fase do românico português que adopta, entre outros elementos, a cabeceira quadrangular de tradição hispânica, aqui nitidamente aprofundada no séc. 18, e ao foco românico do Alto Minho. A decoração subsistente da cachorrada esculpida, cornija enxaquetada (a S.), friso de losangos, as folhas lanceoladas e as formas romboidais revelam-se típicas da construção da Ribeira Lima. A talha do retábulo da capela-mor é barroca e insere-se no chamado estilo nacional. A torre defensiva (com a interessante latrina que conserva) deve ser do final da Idade Média, enquanto a sineira é tipicamente renascentista, tal como também o é o frontispício.

Descrição

Igreja de planta longitudinal composta por nave única rectangular, capela-mor rectangular e torre sineira quadrangular encostada a S. formando ângulo recto; seguem-se antigas dependências conventuais, sacristia, e outras adossadas a N. Volumes articulados, com coberturas de telha a 1, 2 e 4 águas. Frontespício da igreja terminando em empena, rasgado por portal de arco pleno entre pilastras, que apoiam frontão triangular com inscrição e nicho com imagem no tímpano; encima-o óculo quadrilobado; Torre com fresta, 4 sineiras, cornija e gárgulas de canhão nos cunhais. Interior da nave com coro-alto e tecto de masseira com caixotões pintados em medalhões. Ao longo da nave corre friso de losangos, ora salientes, ora cavados. A N. portal entaipado, que daria para o claustro, de 2 arquivoltas e tímpano com cruz de Malta sobre consolas. Arco triunfal sobre pés direitos, com 2 arquivoltas decoradas com motivos lanceolados e formas romboidais, encimado por friso saliente já picado e sem a decoração, onde assenta mísula para pintura com Calvário emoldurado a talha. Capela-mor também com vestígios de friso, 4 frestas, retábulos de talha dourada e tecto de masseira em caixotões. Do antigo claustro conservam-se 2 lanços, com o 2º piso sobre pilares facetados. Junto a este ergue-se torre, tendo a N. e E. contrafortes lançados em banda lombarda, com porta a nível elevado a O. Latrina sobre cachorros a N. e 1 seteira a E. e O.

Cronologia

1100 – Fundação do mosteiro por Godinho Fajes de Lanhoso, companheiro de armas do Conde D. Henrique; 1103 – 1ª carta de couto cedida pelo conde D. Henrique, sendo então prior Ramiro Fajes; 1141 – confirmação dessa carta pelo rei D. Afonso Henriques; 1220 – Inquirições mostram que o mosteiro tinha um domínio muito pequeno; 1398 – D. João I desobrigou o mosteiro de Vila Nova de Muia a irem em anúduva ao castelo de Monção; 1404 – D. João I dá razão ao mosteiro no pleito em que este é representado pelo seu prior Rui Gonçalves de Melo contra Gil Afonso de Magalhães, que havia pretendido intervir na jurisdição cível do couto; 1452 – o Juiz do julgado da terra da Nóbrega e o meirinho Martins Lourenço pretenderam devassar o couto ao que se opôs o prior Gil Lourenço, obtendo ganho de causa através de sentença de Lopo Afonso, ouvidor da correição de entre Douro e Minho; 1549 – segundo documento de dr. João de Barros, o mosteiro estava unido ao de Stª Maria de Rofoios do Lima; 1594 – falecimento do último prior perpétuo, António Martins, que, segundo José João Rigaud de Sousa e António Menéres, mandara alterar o frontespício; 1595, 2 Fev. – o mosteiro une-se à Congregação de Santa Cruz de Coimbra, tomando posse dele o Prior geral D. Cristóvão de Brito e elegendo-se com o 1º prior trienal D. Agostinho de S. Domingos; séc. 16 – torre sineira; séc. 17 – arcaz da sacristia; séc. 18 – aprofundamento da capela-mor devido ao novo retábulo; 1834 – depois da extinção das ordens religiosas, a Comunidade ficou reduzida a 2 professos; 1896 – data de 1 sino; 1939 – data do outro sino.

Nota Histórico-Artística

A história do mosteiro regrante de Vila Nova de Muía é uma história de sucessivas ampliações do espaço monacal e religioso, cujo rigoroso conhecimento está ainda longe de ser satisfatório, pela inexistência de estudos monográficos consagrados ao conjunto. Ela tem muitos pontos comuns com o vizinho mosteiro de São Martinho de Crasto, especialmente durante os séculos XII e XIII, mas apresenta, também, características únicas.
A fundação do mosteiro terá ocorrido no período condal, por volta de 1100 e por iniciativa de Godinho Fajes de Lanhoso, homem próximo do conde D. Henrique. Não se sabe ao certo em que data passou para a posse dos Agostinhos, mas tudo indica que tal tenha ocorrido ainda no século XII, depois de ter sido coutado por D. Afonso Henriques em 1140. As parcelas mais antigas que actualmente se conservam têm sido datadas de finais do século XII, mas existem argumentos que podem ser invocados para recuar ligeiramente esta cronologia.
Da época românica, sobrevive apenas parte da capela-mor, de planta quadrangular. Exteriormente, importa referir os modilhões que suportam a cornija enxaquetada, maioritariamente lisos ou com decoração geométrica sumária, características que levaram Carlos Alberto Ferreira de Almeida a considerar uma cronologia excessivamente tardia para a obra. Observações posteriores deste autor conduziram a uma proposta diferente, sendo a cabeceira um produto anterior ao estaleiro de Bravães, e onde confluíram correntes artísticas quer de Braga, quer do Alto Minho, umbilicalmente ligado à Galiza românica.
O arco triunfal assume-se como um ponto de análise fundamental para a rigorosa avaliação do conjunto. Ele está parcialmente adulterado pela reforma barroca, cuja colocação do retábulo-mor obrigou à sua subida e à picagem das colunas e dos capitéis originais. Mas conserva, ainda, o friso exterior de lanceolados do projecto fundacional, uma solução tipicamente bracarense e que foi aplicada a outras obras vizinhas dos meados do século XII, como São Cláudio de Nogueira e, ainda mais próximo, São Martinho de Crasto.
A construção da nave obedeceu a outros pressupostos estilísticos, sendo nesta parte do edifício que Ferreira de Almeida identificou os pontos de contacto com a Galiza, tradicionalmente considerados dominantes no Alto Minho a partir da segunda metade do século XII. Infelizmente, não possuímos dados concretos acerca da solução dada à fachada ocidental. Como mosteiro regrante, seria natural encontrar uma torre poente a tutelar a frontaria, mas as profundas alterações por que esta parte passou impedem uma qualquer conclusão acerca da obra original. O conjunto possui uma torre quadrangular reforçada por contrafortes nos ângulos, de feição medieval, mas independente do templo. Será obra já dos séculos XIII-XIV, promovida por um senhor local (ou pelo próprio mosteiro), e insere-se num fenómeno relativamente amplo verificado no Entre-Douro-e-Minho tardo-medieval, que consistiu na construção de torres senhoriais tutelares da paisagem como elementos de prestígio e de autoridade.
Na segunda metade do século XVI, por iniciativa, ao que tudo indica, do prior António Martins, reformulou-se a fachada principal da igreja. Ela foi, então, dotada de uma solução maneirista, de portal de volta perfeita encimado por frontão triangular, cujo tímpano ostenta uma inscrição alusiva a Nossa Senhora da Graça. Mais tarde, na primeira metade do século XVIII, o interior foi enriquecido com um retábulo barroco de estilo nacional, de ampla tribuna delimitada por colunas, cuja decoração se prolonga pelas arquivoltas.
Extinto pouco depois de 1834, o mosteiro nunca foi radicalmente restaurado, limitando-se os trabalhos a consolidar a torre e a igreja. Ele aguarda, ainda, um estudo monográfico e um programa de reabilitação, que possa salvaguardar inúmeros elementos actualmente dispersos

Textos de: http://www.patrimoniocultural.gov.pt http://www.monumentos.gov.pt

Fotos de outros recolhidas na net:

Vídeo de: Freguesias do Alto Minho

Localização: https://goo.gl/maps/NchdvwfQj4uV1sAq8

1 thoughts on “Santa Maria de Vila Nova de Muía

  1. O arco que divide a nave principal do mosteiro com a zona do altar/mor, foi levantado, provavelmente ja no seculo dezanove, por pedreiros de Vila Nova de Muia, conhecidos como os Mitras e segundo o relato de pessoas de idade desse tempo, a unica razao, foi para que as pessoas a assistir a missa do chamado coro, pudessem ver o celebrante. E bem visivel nas pedras do arco, a alteraçao. As pinturas do tecto da nave principal, foram executadas por um pintor de Braga ha cerca de 68 anos.

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