São Martinho de Crasto

Séc. XII – Ponte da Barca

Arquitectura religiosa, românica. Igreja conventual românica da 2ª fase do românico português, do foco do Alto Minho e, mais particularmente, do tipo de construção da Ribeira Lima, tendo planta longitudinal de nave única precedida por torre quadrangular e com capela-mor quadrada. A talha dourada dos retábulos e a pintura do tecto alusiva ao orago, é barroca. Possui disposição invulgar em relação às construções românicas devido às alterações, mas conserva ainda, por exemplo, parte do friso enxaquetado que corria a nave, 2 frestas e o pingadouro do lado N., o esquema geral dos portais e o da cornija enxaquetada sobre cachorros. Estes apresentam ornatos diversos – folhagens, esferas, roelas, etc., e virtudes e vícios: a gula, a avareza e estúcia (macaco), a vaidade (mulher dançando), a eternidade (2 serpentes), alusão a Jesus (peixe), etc.

Descrição

Igreja de planta longitudinal, composta por nave única precedida por torre sineira quadrangular, capela-mor rectangular e sacristia adossada a S. Volumes articulados, com coberturas diferenciadas de telhados a 2 e 4 águas. A torre sineira, construída num plano mais elevado, junta-se à fachada O., onde existe pórtico de ligação, a esta e à igreja enquanto que o que existia a N. e dava para o exterior foi entaipado. Fachada lateral N. com 2 pórticos, 1 deles de dupla arquivolta e impostas boleadas e cruz vazada no tímpano. Fachada S. com 2 portais de disposição semelhante, mas ambos entaipados. Igreja percorrida por cornija enxaquetada sobre cachorros lisos e esculpidos, vendo-se também a N., junto à torre, um capitel. Interior com vestígios do friso enxaquetado que corria ambos os lados e hoje está, em grande parte, pintado; púlpito de talha no lado do Evangelho e vão de uma porta entaipada aproveitado para altar, no da Epístola; 2 altares laterais postos em ângulo, com talha dourada ligando-se à que reveste o arco triunfal. Tecto curvo de madeira pintada; iluminação por frestas e 3 óculos no lado do Evangelho e janelas no da Epístola. Capela-mor com algumas pedras lanceoladas reaproveitadas no lado do Evangelho, retábulo de talha dourada e tecto de masseira em caixotões. No interior da torre sineira, escada de pedra dá acesso ao 2º piso.

Cronologia

1136 – Fundação; Nicolau de Santa Maria refere pedra com a seguinte inscrição: “ERA MCLXXIIII, XVI Kalendar MAII Caepta est opera ista” que se pode traduzir “Em 16 de Abril de 1174 / 1136 era cristã), começou esta obra”; A crónica dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho atribui a fundação do mosteiro a Onerico Soeiro, Senhor do lugar de Crasto, e cujo padroado legou aos Cónegos Regrantes de Stº Agostinho; 1142 – confirmada a doação pelo Arcebispo de Braga, D. João Peculiar; 1182 – Seu sucessor, D. Godinho, sagra igreja depois de a ter ampliado, nela se colocando o Santíssimo Sacramento e os fiéis ali instituiram Confraria dedicada a promover o culto; 1190 – o seu património foi amplamente enriquecido com a doação das igrejas de Oleiros, Santa-Eulália, Sampriz e Bravães; 1191 / 1193 – delegados do Papa proferiram sentença contra o Prior do Mosteiro, obrigando-o a obedecer ao Arcebispo de Braga; 1457 – organizou-se um compromisso ou estatutos para governo da Confraria, os quais foram sucessivamente reformados em 1543, 1678, 1727 e 1849; séc. 16 – ampliação do corpo da igreja para ocidente e construção da torre; 1615 – por bula de Clemente VII, é incorporado com todos os seus bens no mosteiro de Stª Cruz de Coimbra, depois de ter passado, a partir do séc. 15, por mãos de comendatários que gastavam as rendas; séc. 18 – aprofundamento da capela-mor para albergar retábulo;

Nota Histórico-Artistica

Documentado na segunda metade do século XI, o mosteiro de Crasto foi totalmente reformulado no século XII, numa campanha não isenta de dúvidas acerca da marcha das obras e dos elementos remanescentes que a ela pertencem. A atribulada história deste cenóbio durante a época moderna é também um factor imprescindível à rigorosa análise do templo, que agrava a dificuldade em datar convenientemente as partes constituintes do conjunto.
Os problemas de catalogação estão bem evidenciados na produção historiográfica dedicada ao monumento. Carlos Alberto Ferreira de Almeida, por exemplo, começou por equacionar um estaleiro activo no século XIII, mas incorporando elementos de uma anterior construção. Posteriormente, recuou as suas propostas, situando o essencial do labor construtivo nas décadas finais do século XII e em associação com a indicação de Aguiar Barreiros (1926), que havia visto, nos estatutos de uma confraria que funcionava na igreja, a data de 1182, como a da sagração do templo.
A história da edificação românica de Crasto, todavia, recua à primeira metade do século XII, altura em que a primitiva comunidade foi entregue aos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. De 1136 era uma discutida inscrição comemorativa do arranque das obras – entretanto desaparecida, mas que, por analogias com outras semelhantes de Neiva e de Refóios do Lima não deve motivar dúvidas quanto à sua real existência. Seria esta empreitada a que se estaria concluída pela década de 80 desse século e, pretensamente, a que fora sagrada pelo arcebispo de Braga, D. Godinho.
Infelizmente, as múltiplas transformações por que o conjunto passou dificultam uma mais rigorosa classificação da obra. A servir de suporte à cornija exterior, existe um capitel que, presumivelmente, deveria pertencer ao portal principal, e do arco triunfal original reaproveitaram-se algumas aduelas nas paredes da capela-mor. São realizações modestas, onde se pode identificar um fundo bracarense, patente, por exemplo, nas folhas lanceoladas que recordam modelos utilizados na primeira fase da igreja de São Cláudio de Nogueira (c.1145), ela própria dotada de arco triunfal com arquivolta de lanceolados.

Textos de: http://www.patrimoniocultural.gov.pt http://www.monumentos.gov.pt

Fotos de outros recolhidas na net:

Vídeo de: Alfredo Sousa Tomás

Localização: https://goo.gl/maps/NkhuJX92Jmqvz3V7A

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