São Brás de Vila Real

Séc. XIV – Vila Real

Capela funerária medieval de planta transversal e interiormente longitudinal, com fachadas terminadas em cornija assente em cachorrada e com portal de arco quebrado. Interiormente os paramentos são rasgados por arcosólios igualmente medievais, de arco quebrado, com ou sem chanfro, excepto um, que é manuelino, de arco polilobado festonado, envolto por decoração vegetalista e enquadrado por duas pilastras interligadas por cornija decorada; na parede testeira possui pinturas murais quinhentistas, formando estrutura retabular, de planta recta e três eixos, delimitados por colunas, e possuindo em cada eixo um nicho com abóbada e imagens de santos, ao imitando imagens de vulto. Pequena capela funerária, construída nas imediações da antiga Igreja Paroquial, caracterizada pela sobriedade exterior, com cornija simples assente em cachorros, alguns deles decorados, e pouco iluminada, uma vez que possui apenas uma pequena fresta na fachada E. e o arcosólio a N., apesar de ter vão aberto para o exterior, era interiormente fechado por portadas de madeira. Os arcosólios possuem estrutura simples e as arcas tumulares com tampa lisa, excepto o da fachada N. que tem figura jacente, mas pouco relevada, e o manuelino, com grande profusão decorativa e com tampa trapezoidal, inscrita. As pinturas murais são de grande qualidade em termos de perspectiva e de desenho.

Descrição

Pequena capela de planta rectangular, de massa simples com cobertura homogénea a duas águas. Fachadas de cantaria aparente, em aparelho “vittatum”, terminadas em cornijas lisas, sobre cachorrada lisa ou decorada com motivos geométricos, cabeças e bustos humanos, aves e máscaras, sobrepujadas por beiral. Fachada virada a N., comprida, rasgada por porta de arco quebrado sobre impostas salientes, com acesso ao interior, o único actualmente existente, e por vão apontado de um arcosólio, aberto junto ao pavimento, com grade de ferro; junto ao cunhal NO. existe a meio da parede uma mísula com decoração zoomórfica. Fachada O. rasgada num plano baixo por fresta e fachada S. cega. INTERIOR com pavimento de nível rebaixado relativamente ao pavimento do adro, a que se acede por três degraus, e iluminado pela pequena fresta, rasgada no interior de um arcosólio, e pelo vão do arcosólio. O pavimento lajeado, integra várias tampas sepulcrais, uma delas de Ascânio Teixeira de Azevedo e sua mulher, D. Guiomar e herdeiros, decorada com o seu brasão envolta em paquife, possuindo de cada lado uma argola de ferro. Nas paredes, em cantaria aparente, abrem-se cinco arcosólios, dois em cada uma das paredes laterais e outro na do topo poente, de arco quebrado com chanfro côncavo, excepto o que se encontra vasado, do lado do Evangelho, que não tem chanfro, e alberga um sarcófago com tampa decorada com espada entre duas meias luas, que se julga pertencer ao filho de Egas Moniz, D. Lourenço Viegas, cognominado o Espadeiro, ascendente desta família; as arcas dos outros três arcosólios são simples e com as tampas planas. O mais notável é o de João Teixeira de Macedo, aberto na parede do lado da Epístola, que possui arco polilobado festonado, de arquivolta decorada com rosetas, sobre uma coluna e um colunelo de intercolúnio igualmente decorado por rosetas, assentes numa única base, facetada, com cordame, e capitel com motivo semelhante, envolvido por elementos vegetalistas enrolados. O arco é enquadrado por duas pilastras de secção triangular, sobre bases facetadas e terminadas em pináculos com cogulhos vegetalistas, interligadas por cornija ornada com motivos geométricos; nos seguintes surgem dois escudos, o da esquerda com um elmo envolto em paquife e o da direita entre moldura em toro; sob o escudo da esquerda surge ainda um silhar com pequena inscrição numa regra. A arca tumular apresenta a face decorada com elementos fitomórficos enrolados e na tampa, trapezoidal, uma inscrição em gótico minúsculo. Na parede testeira, a E. conserva restos de pintura mural, formando estrutura retabular de planta recta e três eixos, delimitados por colunas de fuste decorado com elementos vegetalistas, assentes em base circulares; em cada um dos eixos foi pintado um nicho com abóbada em quarto de esfera, albergando imagem; ao centro surge a imagem de São Brás, trajando vestes episcopais, pondo a mão direita em posição “de palavra”, tendo aos seus pés a figura do doador, ajoelhado, e superiormente enquadrado por dois anjos; no lado do Evangelho surge uma imagem já não identificável e no lado da Epístola a de São Paulo, segurando um livro na mão direita e com a esquerda o seu atributo; a estrutura retabular possui ático com espaldar trilobado sobrre o eixo central; sotobanco com inscrição “DÑO”. Tecto de madeira em masseira.

Cronologia

Séc. 14 – provável construção da capela; séc. 15 – provável instituição do vínculo de São Brás; 1472, 2 Dezembro – João Teixeira de Macedo, fidalgo da Casa Real, do Conselho do Rei, por se ter destacado nas campanhas africanas, recebe de D. Afonso V carta de confirmação do vínculo de que era cabeça a capela e ele o seu administrador, que a transformou em panteão familiar; a esta data possuía missa quotidiana rezada, sendo a de sábado cantada, com três capelães; séc. 15, finais – com a ampliação da Igreja, tendo sido prolongada, a capela ficou-lhe adossada; 1506, 6 Julho – morte de Teixeira de Macedo; séc. 16 – data de uma das sepulturas rasas existente na capela com inscrição de armas de Ascâncio Teixeira de Azevedo, sua mulher D. Guiomar, e herdeiros; execução das pintura murais na parede testeira; séc. 17, 2ª metade – feitura de um retábulo de talha dourada, em estilo nacional, que encobriu as pinturas murais; 1720 – sepultamento de António Teixeira Lobo de Barbosa, morgado de Vilarinho de São Romão, terceiro neto de Ascânio Teixeira de Azevedo; 1721 – havia na capela uma relíquia de São Brás, venerada como milagrosa, para achaques de garganta; séc. 18 – a capela era de Gonçalo Cristóvão Teixeira Coelho de Melo Pinto de Mesquita, mais conhecido por Gonçalo Cristóvão; 1965 – fotografias antigas ainda mostram a capela com o retábulo de talha, ainda que em muito mau estado e a cobertura interior era em falsa abóbada de berço, em madeira; pouco depois apeou-se o retábulo.

Nota Histórico-Artística

Em plena Vila Velha da cidade de Vila Real, a pequena capela de São Brás é o templo mais antigo e o que melhor ilustra os primeiros tempos de História do burgo. A sua construção remonta às décadas que se seguiram à fundação da cidade, ocorrida a 4 de Janeiro de 1289, por ordem de D. Dinis. Desta forma, o pequeno templo, hoje visualmente bastante obstruído por construções anexas de maior porte, terá sido a primeira sede paroquial da nova localidade, significando a nova ordem política e religiosa do amplo território que Vila Real pretendia controlar.
De um ponto de vista artístico, a capela atesta a modéstia de recursos ao dispor da comunidade, nestes primeiros anos. De planta quadrangular, massas compactas, escassa iluminação e cornijamento composto por modilhões, assume-se, ainda, como uma obra românica, característica das regiões de periferia, que tanto sucesso teve no Norte e Centro do país durante os séculos da Baixa Idade Média. Os escassos elementos decorativos aqui empregues, que se resumem à decoração dos modilhões, assim como o arco ogival que permite o acesso ao interior da capela, partilham desta mesma modéstia de meios e de valores estéticos.
Pelo facto de a actual entrada se situar do lado Norte, e de não se vislumbrarem vestígios de um acesso a ponte, faz pensar numa substancial transformação do templo, em altura desconhecida, mas possivelmente contemporânea da construção da Igreja de São Dinis, que lhe está adossada, em pleno século XIV. Ou, então, esta capela foi construída, de raiz, para deter uma função apenas funerária, ligando-se a um hipotético templo paroquial duocentista, que teria antecedido a construção gótica da Igreja de São Dinis. Estas são, todavia, perspectivas antagónicas, impossíveis de comprovar sem um rigoroso estudo monográfico deste espaço urbano.
O interior, quadrangular, está transformado numa capela funerária, recheada de arcossólios, onde alguns dos mais importantes homens da cidade baixo-medieval se fizeram sepultar. Um dos mais simples túmulos que aqui se encontram tem vindo a ser lendariamente atribuído a Lourenço Viegas, filho de D. Egas Moniz e companheiro de armas do nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques, atribuição evidentemente destituída de prova.
Mas o mais importante túmulo que aqui se conserva é o de João Teixeira de Macedo, homem da corte, do Conselho real, que se destacou ao serviço de D. Afonso V, no Norte de África, e de quem obteve o vínculo da capela com o objectivo de a converter em panteão familiar. O túmulo data da viragem para o século XVI, tendo João Macedo falecido em 1506, e adopta uma linguagem artística claramente tardo-gótica, comum nas principais obras do reino da altura. O arcossólio é delimitado lateralmente por pilastras triangulares, rematadas superiormente por florões, que se desenvolvem até um friso de encordoado que define a altura do conjunto. Em baixo, o arcossólio, de arco contracurvado e de carena irregular, abriga o moimento, enquanto que, no espaço livre superior, duas pedras quadrangulares trabalhadas representam um elmo envolvido em motivos vegetalistas e o brasão do tumulado: um escudo esquartelado.
No pavimento, numerosas lápides atestam a vontade de João Teixeira de Macedo em fazer da capela o seu panteão, uma vez que algumas são de seus descendentes, caso de Ascânio Teixeira de Azevedo. No interior, há ainda a registar a presença de algumas pinturas murais, quinhentistas, representando o orago da capela, e que comprovam o sucesso desta modalidade artística durante a primeira metade do século XVI, por terras transmontanas.

Textos de: http://www.patrimoniocultural.gov.pt http://www.monumentos.gov.pt

Fotos de outros recolhidas na net:

Localização: https://goo.gl/maps/1So8ntQZetNmJmd76

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